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Kant


vb. criado em 19/08/2014, 10h44m.

index do verbete Suma: 1724-1804. Idealismo transcendental, ou crítico, também chamado Idealismo formal. Influenciado por Hume. Obras: 1763, A única base possível para a demonstração da existência de Deus; 1766, Sonhos de um visionário; 1770, Sobre a forma e os princípios do mundo sensível e inteligível. Epistemologia. Criou um modelo combinando Racionalismo e Empirismo: o Idealismo transcendental. Razão (entendimento) e experiência (sensibilidade) são necessários para compreender o mundo. Não é possível estudar o [Espaço] (no qual as coisas existem) sem um conhecimento prévio sobre ele. Metafilosofia. A ~f não deve se dedicar ao que a razão é incapaz de compreender (a coisa em si) [1] [11] [16].

Epistemologia

Crítica da razão pura, 1781. Nova teoria do conhecimento. Pretendia tornar a filosofia compatível com a físico-matemática. Busca os princípios que governam o entendimento humano e os limites de sua aplicação [11]. Toda ciência racional deve possuir princípios gerais a priori, isto é, independentes das contingências e circunstâncias externas. Síntese e superação do Racionalismo (que enfatizava a preponderância da razão como forma de conhecer a realidade) e do Empirismo, que dava primazia à experiência [11].

A realidade física é conhecida a posteriori, indutivamente /v. Indução/, a partir da experiência; é ilegítimo atribuir ao mundo sensível princípios universais, como o da causalidade [11].

Queria demonstrar a existência do mundo externo, a partir da certeza de que a consciência existe. Premissa: para que algo exista, tem que ser determinável no tempo (o que existe existe num “quandoâ€). Ora, a consciência existe, assim como a percepção do fluxo do Tempo. Esta não é perceptível a partir só da consciência, mas por meio de coisas externas que se movem, mudam ou permanecem. A passagem do tempo requer um mundo externo onde as mudanças ocorrem [3] (m.c. em [4]).

Nossa experiência de mundo envolve dois elementos, cada um deles dotado de uma parte experimental e outra apriorística [3]:

elemento sensibilidade (intuições) entendimento
provem de sensibilidade direta do mundo da razão (compreensão)
conceito nossa capacidade de experimentar diretamente coisas particulares no espaço e tempo capacidade de ter e usar conceitos, que são experiências indiretas com as coisas
elemento a priori intuição de espaço e tempo conceito de substância (conceito de uma coisa como tal) [7]; conceito de relação causal [8]
elemento empírico intuição de uma coisa em particular meu conceito de uma coisa em particular

Notar que há, então, intuições a priori (espaço e tempo) e conceitos a priori (substância). M.c.: espaço e tempo não são experiências mas são da mesma natureza que as experiências; substância é uma ideia a priori, inata. Em outra parte [8] diz também que a relação causa-efeito é também um conceito a priori. Uma parte do conhecimento, em cada um dos dois aspectos (sensibilidade e entendimento) é conhecida a priori, ou seja, independentemente de qualquer experiência. São conhecimentos a priori: espaço, tempo e substância (m.c. em [5]) (e a relação causal?).

Intuições da sensibilidade: espaço e tempo. Não são “propriedades†das coisas, mas formas mediante as quais o intelecto representa para si as “dimensões aparentes da realidadeâ€, ordenando, assim, os dados da experiência. As representações vindas da sensibilidade se ordenam em “categorias do entendimentoâ€, formas a priori da razão, que funcionam como uma moldura ou ordenação lógica das experiências singulares /v. Categorias/.

Aqui complica um tanto: diz que ^ afirmou que as estruturas básicas da consciência são a priori, chamou-as de categorias, que incluem causa, substância, existência e realidade. As categorias (ou conceitos puros) nos fornecem uma estrutura para a experiência [9]. Quais são as categorias? Para [9], como dito, Causa, Substância, Existência e Realidade. Feinmann cita Unidade, Pluralidade, [Totalidade], Realidade, Negação, [Limitação]. Durant [10] cita ser, Qualidade, Quantidade, Relação, etc.. Em [11] aparecem: Qualidade, Quantidade, Relação e Modalidade.

Como demonstrar a existência dos a priori? O espaço é noção a priori porque para conhecer as coisas fora de mim preciso saber que estão fora de mim, e não posso localizar nada fora de mim sem saber o que fora de mim significa. Logo, como é a priori, o espaço não pertence às coisas do mundo, é uma característica da sensibilidade: no mundo numênico pode não haver espaço [6].

Espaço e tempo tornam matemática (suscetível de medição segundo valores conhecidos) nossa experiência na natureza. Mas a ~f de ^ coloca limites severos à possibilidade de ciência: o que é externo a mim é também externo aos elementos a priori do conhecimento (isto é, externo ao espaço, ao tempo, à substância e à relação causal); ou, noutros termos, o que se sabe, sabe-se apenas sobre o mundo percebido (o mundo fenomênico), não sobre o mundo-em-si (o mundo numênico) [3]. Quando a razão se aplica a conceitos que não podem provir da experiência -- Deus, alma e mundo -- produzem-se as “ilusões da razãoâ€, que são meramente especulativas. Daí não ter valor demonstrativo a metafísica. Distingue o conhecimento objetivo do que é da crença ou certeza subjetiva no que deve ser [11].

Não existe a â€Coisa em si†(os objetos exteriores tal como são) [13], mas fenômenos, ou seja, as coisas da maneira como são percebidas e elaboradas pelo entendimento humano [11]. O conhecimento é um processo de síntese; o intelecto proporciona a forma e a experiência oferece o conteúdo. O nexo entre ambos se estabelece pela Imaginação [11]. Os fenômenos da realidade objetiva não aparecem para o homem tais como são, como coisas-em-si, mas como representações subjetivas, construídas pelas faculdades humanas de cognição. O ego transcendental apreende conhecimento a partir das impressões dos sentidos e de conceitos universais, as categorias, que impõe àquelas impressões. Não somos capazes de conhecer inteiramente os objetos reais visto que o nosso conhecimento sobre os objetos reais é apenas fruto do que somos capazes de pensar sobre eles†[2] [14].
    m.c.: o homem filtra e cataloga as informações dos sentidos (o conteúdo) usando as categorias intelectuais (a forma). O resultado desse processo de captação e classificação é o conhecimento.

Ética.

1788, Crítica da razão prática. Imperativo categórico: ação moral é a que pode se tornar princípio de uma lei válida para qualquer pessoa. “A moral não nos ensina a sermos felizes, mas como devemos nos tornar dignos de Felicidadeâ€.

Busca fundamentar que existe uma ordem superior, que satisfaça as exigências morais e ideais do humano. O fundamento está na lei ética, autônoma e independente -- imune ao exame da ciência. Fundar uma ordem transcendente sem recorrer à metafísica especulativa.

A ética não precisa dos dados da sensibilidade e, portanto, não pode cair em “ilusõesâ€. A consciência moral é um dado evidente, é a razão aplicada à ação.

Somente a vontade humana pode ser boa ou má. A moralidade não se confunde com a legalidade. A vontade é pura, moral, quando suas ações são regidas por imperativos categóricos e não por imperativos hipotéticos, como a punição da lei. O imperativo categórico pode ser assim enunciado: “Age de tal modo que o motivo que te levou a agir possa tornar-se lei universal.â€

A aceitação pelos homens da lei moral é a prova de que existe uma ordem que transcende o sensível, cujo único fundamento possível é a existência de Deus.

Deduz assim a Metafísica não da ciência, mas da ética [12].

Estética.

1790, Crítica do juízo: ^^ e finalidade, inerentes ao homem e não explicáveis pela experiência. A intuição estética realiza a síntese entre a imaginação (sensibilidade) e o entendimento, permitindo que a razão se torne sensível e a sensibilidade, racional [12].

Fichas de leitura sobre ^

1. Kant, por Silva, f. de l.

2. Kant, por Feinmann, f. de l.


Notas e adendos:

[1] V2013g.

[2] wkp.

[3] B2011f.

[4] M.c.: isso pressupõe como provada a premissa de que o tempo existe materialmente, como coisa-em-si; mas, em termos kantianos, o tempo não pertence à consciência do sujeito? Então como ter certeza de que não é uma ilusão? Ou, por outro lado: a mudança ou movimento das coisas, prova do fluxo do tempo, não existe só na consciência, porque é constatada pelos sentidos? Então como saber que o tempo existe fora da consciência?

[5] m.c.:: em algum lugar nos a priori não tinham de entrar as categorias?

[6] M.c.: quanto ao tempo e à substância, não entendi a prova de que seriam a priori.

[7] M.c.: talvez seja bobeira, mas parece que a noção a priori de substância é a noção de que as propriedades de algo mudam sem que esse algo deixe de existir ou se torne outra coisa, ou seja, a noção de que por baixo das aparências mutantes existe uma essência permanente; seria a noção da diferença entre substância e propriedade; v. B2011f 170.

[8] B2011f 170.

[9] B2011f 181.

[10] D1926h 227.

[11] G99e.

[12] Nesse subtema, f. pr.: G99e.

[13] Talvez eu tenha copiado errado; acho que ^ não disse que não existe a coisa em si; disse que ela pode existir ou não, mas não temos como saber, não temos acesso a ela.

[14] Nesse ponto ^ contradiz Platão, que dizia que poderíamos, através da razão, alcançar o mundo real das ideias (B2011f).

[15] O que ^ fez de revolucionário foi trocar a pergunta, que até então era “porque o mundo é como é?†para esta: “porque vemos o mundo como vemos?†(B2011f 303).

[16] A teoria de Kant era de que nós construímos ativamente uma imagem do mundo, não apenas documentamos eventos objetivos; nossa percepção não se baseia apenas no que existe, mas é de alguma forma criada – e restringida – pelos aspectos gerais da mente ([Mlodinow, L. O Andar do Bêbado, notas]).