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Que é filosofia?


vb. criado em 08/09/2014, 23h57m., revisado em 13/05/2015, 22h05m.

Entender o que é a ~f pressupõe conhecê-la primeiro, isto é, concluir o seu estudo. Como isso é difícil e demorado, cabe, no início, buscar apenas um conceito provisório, para servir como ferramenta de orientação [1]. Esse conceito irá sendo expandido, esclarecido, comprovado, questionado, contradito e substituído ao longo deste roteiro. É assim que a ~f trabalha.

Conceitua-se provisoriamente a ~f pela etimologia da palavra, que significa amor à sabedoria [2]. Pitágoras criou o termo, para não definir-se como sofos, sábio, já que não se considerava como tal, mas como alguém disposto a percorrer um caminho em direção à verdade.

A ~f nasceu do assombro, do espanto, da perplexidade diante do mundo e seus mistérios. As primeiras civilizações buscavam explicar esses mistérios pelo caminho mitológico-místico. Foi entre os gregos, cerca de 500 anos antes de Cristo, que pela primeira vez alguém propôs explicar o mundo através da razão, em lugar da magia [3]. Assim surgiu a ~f.

Os primeiros filósofos se ocupavam de tudo. Ainda não existiam as ciências, como as conhecemos hoje, de forma que todas as questões do homem e da natureza, do céu e da terra, da vida e do além-vida, eram problema dos filósofos. Com a ampliação e subdivisão temática dos conhecimentos humanos, e consequente desenvolvimento e especialização das várias ciências, restaram para a ~f somente as perguntas mais difíceis: aquelas de que a ciência não dá conta [4]. Veremos, adiante, quais são elas.

Como lembrou Somerset Maugham, na filosofia há muito mais respostas do que perguntas [5]. Veremos, porém, que na ~f quase nenhuma resposta é incontroversa ou definitiva, quase tudo é polêmico, nenhum paradigma resiste por muito tempo à crítica. Filosofar, no fim das contas, continua sendo muito mais um perguntar do que um responder. O mérito da ~f é, talvez, no mundo de hoje, o de preservar da extinção o assombro, ensinando-nos a questionar o que ninguém mais questiona. Talvez, no fim das contas, no caminho da filosofia não encontremos respostas, somente perguntas que tornam as nossas perguntas precedentes obsoletas [6]. Depois de 2.500 anos de construção e desconstrução de sistemas filosóficos, talvez a ~f não seja mais do que era no começo, um caso de amor, e talvez de amor impossível [7].


Notas e adendos:

[1] Uma coleção de frases que tentam explicar a ~f, ou fazem insinuações ou provocações a respeito, pode ser vista aqui.

[2] Do grego philos (amor, amizade) + sophia (sabedoria).

[3] Deve ser mais produtivo ir acompanhando o roteiro, no qual os textos foram arrumados numa ordem que facilita o entendimento. Se todavia a ansiedade for muita, v., adiante, A passagem do mito ao logos.

[4] V. Que perguntas faz a filosofia?, e Filosofia, problemas centrais.

[5] O fio da navalha, parte 2, cap. 4.

[6] “Não solucionamos problemas filosóficos, nós os superamos” (Dewey).

[7] Em analogia com a perplexidade surgindo como conclusão final da ~f, em 1927 Niels Bohr escreveu: “Qualquer um que não se chocar com a teoria quântica não a compreende”. O mesmo pode-se dizer da ~f.