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Dialética


vb. criado em 04/07/2013, 21h19m.
A ideia central de Hegel (abr. loc. H.) era de que todos os fenômenos, da consciência às instituições políticas, são aspectos de um único espírito (mente ou ideia), que ao longo do tempo reintegra esses aspectos em si mesmo [1]. O fundamento supremo da realidade é a “idéia”, que se desenvolve numa linha de estrita necessidade determinada pelo princípio de Dialética, realizada em três fases: tese, antítese e síntese (ou simplicidade, cisão e reconciliação). Assim, toda realidade primeiro “se apresenta”, depois se nega a si própria e num terceiro momento supera e elimina essa contradição [4] [2].

H. parte das Categorias, conceitos usados no raciocínio, dentre as quais a Relação é a noção mais difusa: toda Ideia é um grupo de relações, só pensamos numa coisa ao relacioná-la com outra coisa e perceber as similaridades e diferenças. Uma ideia sem relações é vazia. Por isso diz que 'puro ser e nada são a mesma coisa', porque o ser destituído de relações ou qualidades não existe e não tem significado algum [3].

De todas as relações a mais universal é a do contraste ou oposição. Toda condição de pensamento ou das coisas, toda ideia e toda situação do mundo, leva irresistivelmente ao seu oposto e depois se une a ele para formar um todo mais elevado e mais complexo. “A Verdade é uma unidade orgânica de partes contrárias” [3]. O movimento do pensamento é idêntico ao das coisas, em cada um deles há uma progressão dialética a partir da unidade para a diversidade e daí para a diversidade na unidade. Pensamento e ser seguem a mesma lei, lógica e metafísica são uma só coisa [3].

H. buscava uma explicação imanente, isto é, interna, sobre o desenvolvimento das coisas. Queria mostrar como uma noção produz outras noções, e como esse processo ocorre 'dentro' da própria noção. Para isso, toda noção ou tese contém dentro de si uma contradição, ou antítese, que só é solucionada pelo surgimento de uma noção mais nova e mais rica (a síntese), a partir da própria noção original. A síntese mostra que a contradição era só aparente, fruto da limitação da nossa compreensão da noção original.

A demonstração começa com a ideia de Ser, o puro ser, isto é, qualquer coisa sobre a qual, em qualquer sentido, pode ser dito que existe. A noção traz uma contradição, porque, para ser compreendido, o ser puro exige o conceito oposto de nada, ou de não-ser. Essa contradição é só um conflito entre dois aspectos de um conceito único, mais elevado, onde os aspectos aparentemente contraditórios encontram solução: o conceito de vir-a-ser. O que vem-a-ser desloca-se de um estado de não-ser para um estado de ser. O conceito de ser é só um aspecto da noção tripartite de vir-a-ser. Este conceito não é introduzido 'de fora', para resolver a contradição: 'tornar-se' sempre foi o significado de 'ser' e 'não-ser'.

O processo dialético prossegue sempre em [Espiral], repetindo-se em níveis cada vez mais elevados: cada síntese contém uma contradição, que é solucionada por uma noção ainda mais rica, elevada. Todas as ideias estão interconectadas dessa forma. As conexões se revelam pelo método dialético, por esse movimento de autocontradição e resolução.

Outra acepção: Em Aristóteles a dialética se opõe ao silogismo científico. Este último é fundado em premissas verdadeiras e conclui necessariamente, pela força da forma. Já o silogismo dialético tem a mesma estrutura de necessidade, mas suas premissas são apenas prováveis, de modo que conclui de modo apenas provável. Assim, para Aristóteles, dialética é a dedução feita a partir de premissas apenas prováveis (F2017r).


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Notas e adendos:

[1] f. pr.: B2011f.

[2] Ninguém negaria que o fenômeno humano e suas instituições são históricos; a novidade de ^ foi dizer que a consciência e as estruturas do pensamento também são históricas, isto é, sujeitas à mudança. Para Kant, por exemplo, como as categorias existem antes da experiência, elas eram independentes da história, isto é, de qualquer influência histórica ou aperfeiçoamento (B2011f).

[3] D1926h.

[4] G99e.