Verbetes relacionados:
Fichas por assunto
Fichas por ordem alfabética
Freud


AlbertoSantos.org       Capa   |   direito   |   filosofia   |   resenhas   |   emap   |   mapa   |   Busca


A teoria do amor na psicanálise



index do verbete

      fonte: F004t: Ferreira, Nadiá P. (Nadiá Paulo). A teoria do amor na psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. PDF disponível no meu Google Drive.
<img style="float:left;max-width:300px;max-height:400px;border:1px
dotted black;margin: 0px 10px 0px 0px;" src="files/sacred-and-profane-
love-1514.jpg"> Ticiano, 1490-1576. Amor sagrado e amor profano. +++A
CONCLUSÕES PESSOAIS:
1 Parece dizer: há o amor-amor e o amor-
paixão.
2 No primeiro o amador sabe que não existe o que ele
deseja; o amor é sublimação.
3 No segundo, o amador nega a
impossibilidade da sua satisfação e idealiza o amado como sendo a
fonte do que falta (v. p. 22). +++B AMOR & CASTRAÇÃO
4 Ama-se para
aceitar as meias-verdades ou se ama para encontrar toda a verdade.
Tudo depende da posição subjetiva em relação à castração.
5 O
processo de humanização do ser falante se caracteriza pela inscrição
no mundo dos símbolos, o qual só existe porque há a linguagem.
“Processo de humanização†se torna então sinônimo de constituição de
uma estrutura psíquica, que é formada pelo simbólico (universo da
palavra e da lei), pelo imaginário (campo do sentido e da imagem
corporal) e pelo real (registro do impossível). Castração, então, deve
ser entendida como a inserção do real como representante do impossível
nessa estrutura psíquica.
6 Diante dos enigmas da existência no
mundo — porque se ergue um muro intransponível chamado real —, o amor
se articula com o desejo.
7 Amar coloca em cena dois lugares:
sujeito (amante) e objeto (amado). Aquele sobre o qual se abate a
experiência de que alguma coisa falta, mesmo não sabendo o que é,
ocupa o lugar de amante. Aquele que, mesmo não sabendo o que tem, sabe
que tem alguma coisa que o torna especial, ocupa o lugar de amado. O
paradoxo do amor reside no fato de que o que falta ao amante é
precisamente o que o amado também não tem. O que falta? O objeto do
desejo. +++C ARISTÓFANES, A TEORIA DA ALMA GÊMEA:
8 o amor é a
procura do todo e amar é sinônimo de se unir e de se confundir com o
amado. Essa esperança atravessou milênios e permanece, até hoje, na
idealização do objeto de amor como alma gêmea.
9 Dizer que não há
o objeto do desejo não significa que não haja uma infinidade de
objetos que causam desejo. Mas nenhum desses objetos é Aquele, que se
existisse conduziria à felicidade. Como esse objeto não há, o desejo
não pode ser realizado. Assim o destino do homem é ser desejante e
amar na lógica do não-todo.
10 o amor não elimina nem a falta,
porque ela faz parte da constituição do aparelho psíquico
(subjetividade), nem o desconforto do homem no mundo. Freud, em seu
texto Mal-estar na civilização (1930), indica as fontes principais
desse desconforto: as exigências imperativas do social, a degradação
do corpo, a morte e os conflitos inerentes aos laços sociais (amor,
relações familiares, de trabalho e de amizade). Sem dúvida, o amor, a
religião e os ideais de revolução social para transformar o mundo
fazem parte das grandes ilusões humanas: fraternidade, eternidade,
felicidade e liberdade. +++D AMOR & DESEJO
11 Amar coloca em cena
o desejo relacionado à falta e não ao sexo. Nesse sentido, amor e
desejo sexual são diferentes, o que não significa que sejam
excludentes.
12 Quando se ama, o que está em jogo é a suposição de
um ser — riqueza interior — no outro. Quando se deseja sexualmente, o
que entra em cena é o outro capturado como objeto.
13 desejar é
lamentar o que falta. Por isto o desejo se apresenta sempre com as
seguintes características: indestrutibilidade e invariância. É nesse
sentido que Lacan afirma que o desejo é sempre o mesmo, que está
sempre se deslocando de um objeto para outro. Em relação ao desejo
nunca é isto, é sempre outra coisa, mais outra, ainda outra e assim
sucessivamente... Aqui entra em cena a invenção do amor com a
finalidade de suprir a falta
14 Lacan: o impossível, sob a forma
de falta, é o modo pelo qual o real comparece no simbólico +++E AMOR &
GOZO
15 O lugar do gozo é o corpo. Um corpo é mapeado em zonas
erógenas, onde se instalam as pulsões sexuais. Freud localiza esses
pontos de excitação sexual na boca, no ânus e nos genitais. Lacan
acrescenta os olhos e os ouvidos. O gozo se liga a determinados
objetos que se relacionam diretamente com essas regiões: seio, fezes,
órgãos sexuais, olhar, voz, odores. Temos, então, respectivamente as
seguintes pulsões: oral, anal, genital, escópica, invocante e
olfativa.
16 Um corpo não goza por inteiro e também não goza do
corpo do Outro. Diz Lacan: “A relação sexual é impossívelâ€. É que, se
a relação sexual fosse possível, haveria gozo pleno dos corpos. Mas o
que há é gozo parcial. nasce a suposição de um mais-gozar. Então fala-
se de amor, sofre-se por amor +++F PRAZER E GOZO NÃO SÃO SINÔNIMOS.

17 O princípio de prazer é regido pelo princípio de constância:
tendência do aparelho mental para escoar uma porção de excitação, a
fim de reter a menor quantidade possível. Aqui entra em cena o
princípio de realidade, cuja função é orientar os caminhos que levam à
realização do prazer, em função das condições impostas pelo exterior.

18 Mas existe uma compulsão à repetição, que escapa ao princípio
de prazer: é o mais além do princípio de prazer, que é tendência ao
retorno do inanimado e à inscrição da dimensão da morte na vida. visa
o estado de repouso, de equilíbrio, correspondendo ao princípio de
nirvana ou de aniquilamento, retornar ao princípio de tudo,
retrocedendo ao nada original, ao inominável. Mas a pulsão de morte é
fundamentalmente criadora.
19 Esse ‘mais além do princípio de
prazer’ é o gozo.
a m.c.: não sei se entendi, mas parece que diz
que a pulsão persegue o gozo, e não o prazer, que são coisas
diferentes.
20 Estaria certo dizer que o gozo é do corpo e o
prazer do aparelho psíquico? +++G FREUD: OS FUNDAMENTOS DO AMOR
21
a) escolha de objeto (narcisismo)
22 b) diferenças e articulações
com as pulsões
23 c) idealização e identificação (duas formas de
amar
24 d) Eros é uma força que tende para a unificação.
a
m.c.: eros é uma força que tende para a unificação. E Tânatos?
25
Sobre as pulsões: existem três polaridades que regem o aparelho
psíquico: eu-objeto, prazer-desprazer e atividade-passividade. Se
existem três polaridades psíquicas, o amor, diz Freud, não pode ter
apenas uma antítese, mas sim três: amar, odiar e ser amado.
26
Sobre narcisismo: amoroso. No início, as pulsões sexuais e as pulsões
do eu (pulsões de autoconservação) se misturam, tendo portanto a mesma
quantidade de libido (é o tempo primitivo, auto-erótico). Quando elas
se separam, a bipartição da libido pode ser feita de forma
desequilibrada: uma certa quantidade de libido retirada dos objetos é
investida no eu, ou uma certa quantidade de libido retirada do eu é
investida nos objetos.
27 Esse deslocamento da libido determina
duas escolhas do objeto amoroso: narcisista e anaclítica (de ligação).

28 Em função das condições particulares da espécie humana, todo
indivíduo tem dois objetos sexuais: ele próprio e as pessoas que
exercem as funções de alimentação e de proteção. Assim, a escolha
narcísica tem como modelo a imagem de si mesmo: amamos o que somos, o
que fomos, o que gostaríamos de ser e alguém que foi parte de nós
mesmos. Já a escolha anaclítica tem como modelo as funções maternas e
paternas: amamos a mulher que alimenta ou o homem que protege.
29
Adotar como modelo o seu próprio eu está para a escolha narcísica
assim como adotar as imagens materna e paterna está para a escolha
anaclítica.
a m.c.: isso é o narcisismo? a libido se distribui
igualmente entre o ego e o id porque eles são um só? A pulsão sexual é
voltada para fora (objetos) e a de autoconservação é voltada para
dentro (para o ego)?
b m.c.: não sei se entendi. Parece que aqui o
ser percebe que o prazer está nele, e as fontes de prazer estão fora
dele. Daí surge o amor (relação positiva com as fontes de prazer).

30 aqueles que renunciaram a uma parte do seu narcisismo se lançam
à procura do amor, transferindo o seu próprio narcisismo para o objeto
amado. tem como característica a supervalorização do objeto ou de si
mesmo.
31 Na escolha anaclítica, a intensidade com que a libido se
desloca do eu para o objeto produz uma relação de submissão neurótica.
A origem dessa subserviência está na idealização, processo através do
qual as qualidades do objeto são exacerbadas ao ponto de ele ser
tomado como a fonte de todos os bens.
32 Na escolha narcísica, o
eu ideal é amado com a mesma intensidade com que o eu do prazer foi
amado no auto-erotismo. Há idealização, como superinvestimento do
amado à custa do amante, o objeto amado é colocado no lugar do ideal
do eu.
a m.c.: vejamos. Na fase oral, amar é ser saciado pelo
outro. Na fase anal, ser apreciado pelo outro.
33 A relação
inaugural entre amor e auto-erotismo determina a estrutura narcísica
do amor, cuja característica fundamental é o procedimento de devoração
(A sensação de fome, eliminada pelo objeto que porta o alimento,
inaugura a primeira experiência de satisfação sexual). +++H LACAN

34 o amor como paixão imaginária é definido como um amor que
deseja ser amado. O que é visado nesse amor é o aprisionamento do
outro. Isto implica que o outro só pode ser tomado como objeto do bem,
ou seja, o que o apaixonado considera seu bem está no outro.
35
Logo, a única particularidade do outro, colocado no lugar de objeto
amado, é satisfazer o pedido do sujeito para ser amado. a sombra de
Eurídice a Orfeu, indicam com precisão a posição do outro no amor-
paixão: um objeto vestido pelas fantasias do amante, um objeto em que
o amante deseja se enviscar.
36 Já o amor como dom ativo não visa
ao outro como objeto, mas como ser. Só que o engano do amor reside no
fato de que esse ser para o qual o amor se dirige é uma fantasia e,
como tal, uma ficção. +++I CONCLUSÃO
37 o amor-amor se inscreve na
função de sublimação, na medida em que, por estratagemas diferentes, o
amado e o desejado se apresentam como objeto inacessível, seja sob a
forma de impossível ou de perdido. Enfim, no lugar do objeto é
colocado um vazio, fazendo com que o amor revele o que tem por função
velar: o real. Na sublimação, a visada do amor não é a posse do
objeto. Uma série de artifícios é inventada com a finalidade de
colocar previamente o objeto amado como impossível.
38 O amor-
paixão coloca em cena a função de idealização.
39 O real como
registro do impossível é negado e substituído pela promessa de
felicidade. Da esperança ao fracasso, o sonho se transforma em
martírio a serviço do gozo. Nega- se a castração para sustentar a
ilusão de que o amado tem o que falta ao amante. Na idealização, o
amor aspira a posse do objeto. Essa mudança de alvo engendra
estratégias que visam a identificar as causas do infortúnio. O culpado
é sempre o Outro: as forças malignas do mundo, o dinheiro, a traição
etc. +++J GLOSSÃRIO
40 Pulsão: conceito psicanalítico introduzido
por Freud (1905) para explicar a existência de fontes internas
portadoras de excitação (estado de tensão) a que o organismo não pode
escapar e que são factores geradores de determinados comportamentos,
atitudes e afectos. A pulsão tem como alvo suprimir a tensão
proveniente da excitação corporal. (Mesquita, R. & Duarte, F.
(1996).Dicionário de Psicologia. Editora Plátano).